terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Cerâmica Feita á Mão :


Uma peça de cerâmica, feita por mim em aula na UNIVERSIDADE SÈNIOR DE TORRES VEDRAS

Ègloga II * ( Almeno e Agrário, pastores )

<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<

Ao longo do sereno
Tejo, suave e brando,
num vale de altas árvores sombrias,
estava o triste Almeno
suspiros espalhando
ao vento, e doce lágrimas ao rio.
No derradeiro fio
o tinha a esperança
que, com doces enganos,
lhe sustentaria a vida tantos anos
nûa amorosa e branda confiança;
que, quem tanto queria
parece que não erra, se confia.

 "  Luis de Camões "

domingo, 16 de dezembro de 2012

Estrofe cxx do Camto lll: Amores de Inês de Castro e D. Pedro

««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««
« Estava a linda Inês, posta em sossego**
de teus anos colhendo doce fruta,,
Naquele engano de alma, ledo e cego,
Que a fortuna mão deixa durar muito,

Nos saudosos campos de Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e ás ervinhas,
O nome que no peito escrito tinha.


" CAMÔES "

domingo, 9 de dezembro de 2012

Cecília Meireles~~" Sem Corpo Nenhum "

>><<>><<>><<>>><<>><<>><<

Sem corpo nenhum,
como te ei de amar?
--Minha alma, minha alma,
Tu mesma escolheste,
esse doce mal!
Sem palavra alguma,
como o hei-de saber?
--Minha alma, minha alma,
tu mesma desejas,
o que não se vê!

Nenhuma esperança,
me dás, nem te dou:
--Minha alma, minha alma,
eis toda a conquista
do mais longo amor!

in" Poemas  (1942-1959)"

** O Meu Orgulho, de Florbela Espanca**


«««««««««««**************««««««««««««««««

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera,
Não me lembrar! Em tardes dolorosas,
Eu lembro-me que fui a Primavera,
Que em muros velhos fez nascer rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas... Quem soubera,
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo a mim: «Não me merecem...»
E já não fico abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Eterna Saudade**

     ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
*********************************************

Suspiro absorto em pensamentos,
Trazidos pelas minhas lembranças,
acariciadas por pétalas de rosa porcelana,
perfumadas de saudade,
daquela terra longinqua,
tão perto do meu coração!
Um dia foste minha, terra de quentes cores,
nos caminhos de chão vermelho que eu pisei,
pelos cheiros que me extasiavam
nas madrugadas das ternuras,
pelo misticismo daquelas gentes de pele negra,
de coração felizes,
que cantavam melodias de liberdade!

A minha memória está pintada,
com cores do pôr-do-sol
retocadas pelo arco-íris inolvidavel
da minha felicidade!
Ainda sinto a impotuosidade das breves tempestades,
que me delíciavam no deslumbramento da bonança,
abraçadas pela luz do sol radioso,
surgidas inesperadamente do cinzento da chuva torrencial!

Mulheres de seios soltos, aos ventos,
das savanas sem fim de uma Àfrica de fascínios!
Ah...Angola minha terra de adoção,
quero-te como jamais havia pensado!
Tu Luanda, cidade da minha juventude,
deixaste-me enfeitiçado,
conheceste os meus segredos,
guarda-os com carinho em ti,
nas raízes das belas acácias,
conserva-os dlicadamente,
nos perfumes das suas flores!

Até sempre Luanda querida,
confidente dos meus segredos de amores,
Estarás eternamente em mim,
Angola das minhas paixões!
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««
"""José Carlos Moutinho """

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Esfinge == Soneto == Florbela Espanca

*******************************************************

Sou filha da charneca erma e selvagem:
Os giestais, por entre os rosmaninhos,
Abrindo os olhos de oiro, plos caminhos,
Desta minh´alma ardente são imagem.

E ansiosa desejo--ó vã miragem--
Que tu e eu, em beijos e carinhos,
Eu a Charneca, e tu o sol, sozinhos,
Fôssemos um pedaço da paisagem!

E á noite, á hora doce da ansiedade,
Ouviria da boca do luar
O De Profundis triste da Saudade...

E, á tua espera, enquanto o mundo dorme,
Ficaria, olhos quietos, a cismar...
Esfinge olhando, na planície enorme... 

sábado, 24 de novembro de 2012

Uma peça de ceramica feita por mim em grês:


"Poema de Carlos Drummond  de Andrade"«««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««

Por muito tempo achei que a ausência é falta,
E lastimava, ignorante, a falta, hoje não a lastimo
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a branca, tão pegada aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

 



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

VOU LÀ VISITAR PASTORES de Ruy Duarte de Carvalho

Exploração epistolar de um percurso angolano em território Kuwale ( 1992-1997 ) 
Namibe ( Moçâmedes ) ( È um pequeno resumo de um livro que val a pena ler, depois conto mais)

O avião aterra no deserto e seria exelente, que te aguarda-se um daqueles dias de lumonisidade como os que podem ocorrer no tempo de chuvas, depois da tempestade, quando chove até nas costas doi,
Agosto encontrarás por certo uma manhã brumosa.
A humidade densa avança do lado do mar, tráz botas para andar e o tabaco que fumas, bastantes previsões de consumo, da gestão da água para beber, da comida, do que é preciso levar para oferecer ou eventualmente trocar por um cabrito;
Uma viagem depende de tais coisas, e não tolera falhas.
A Angola que eu sei, espera só por ti. Vais encontrar o que é hoje a Cidade mais preservada de Angola.
A guerra, propriamente dita, não passou lá. As chagas que lhe encontras são casas de adobe que perderam o teto, e que a chuva rara mas forte, vai diluindo. São casas antigas de traça algarvia.
Foram numerosas e muito activas, as colónias pesqueiras portuguêsas que vieram cá instalar-se.
Sairam diretas de Portugal carregando famílias e artes de pesca pelo Atlântico fora.

domingo, 18 de novembro de 2012

Identidade»»»»MIA COUTO««««


Preciso ser um outro,
para ser eu mesmo,

Sou grão de rocha,
Sou o vento que a desgasta,

Sou o polén sem inseto,

Sou areia sustentando,
o sexo das árvores,

Existo aonde me desconheço,
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro,

No mundo que combato e morro,
no mundo por que luto nasço.



Alvaro de Campos**Heterónio de Ferando Pessoa


Não, não é Cansaço...

Não não é cansaço...
È uma quantidade de desilusão,
Que se me entranha na espécie de pensar,
È um domingo ás avessas,
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
È eu estar a existindo,
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra,
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais:


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Fernando Pessoa " Sonho Não Sei Quem Sou"


Sonho. Não sei quem sou neste momento,
Durmo sentindo-me. Na hora calma,
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu saber. Se acordo
Parece que erro, Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
     Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas que limitam e me contêm,
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Porque Hoje é Domingo


O céu está belo,azul, brilhante,
Mas chove...
Uma chuva forte, intensa, de cor e aromas,
Chovem pétalas coloridas,
As ruas ficam perfumadas,
De um odor doce, de quimeras e sentidos,
Que despertam para a vida,
As pessoas entreolham-se,espantadas,
Por tão inusitado evento,
Ninguém entende, nem explica,
Mas deixam-se deslumbrar,embalados,
Naquela mística beleza,
O chão está mudado na cor,
Qual tapete de retalhos,
Brilha, numa luminosidade,
Resplandecente,
Que fascina quem passa...
O que mais encanta,
E todos admiram,
São os cheiros de perfumes raros,
Talvez tudo isto se explique,
porque hoje é Domingo!

  Do Poeta " José Carlos Moutinho"

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Àrvores de Fruto««««Poeta Angolano»»António Cardoso


Cheiras a cajú da minha infância,
e tens a cor do barro vermelho molhado,
de antigamente;
Há sabor a manga a escorrer-te na boca,
E dureza do maboque a saltar nos seios,

Misturo-te com terra vermelha,
E com as noites de histórias antigas,
Ouvidas há muito;

No teu corpo,
sons antigos dos batuques há minha porta,
Com que me provocas,
Enchem-me o cérebro de fogo intenso.

Amor, és o sonho feito carne
Do meu bairro antigo do musseque.!


,

Pêma da despedida****Mia Couto



Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não pudemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este o sossego
que eu queria,
esta exílio de tudo
esta solidão de todos.

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quanto tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem á boca

Nem uma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim eu escrevo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Dez Reis de Esperança de António Gedeão

Se não fosse esta certeza que não sei de onde vem, não comia nem bebia, nem falava com ninguém. Acocorava-me a um canto, no mais curo que ouvesse, punha os joelhos á boca e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes do ingénuo adolescente, a chuva das pernas brancas a cair impertinente, aquele incógnito rosto, pintado em tons de aguarela, que sonha no frio encosto da vidraça da janela, não fosse a imensa piedade dos homens que não cresceram, que ouviram, viram, ouviram, viram e não perceberam, antologia do espanto, flores sem caule, flutuando no pranto do desencanto,
... se não fosse a fome e a sede dessa humanidade exangue, roia as unhas e os dedos até as fazer em sangue.

sábado, 10 de novembro de 2012

Florbela Espanca

vou novamente escrever o poema, cliquei em algum lado e puf...desapareceu:

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos fez nascer as Rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas...Quem soubera.
porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo que sim:« Não me merecem ...»
E já não fico abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!

Juntos ao Luar

O que significa amar verdadeiramente alguém? Tempo houve na minha vida em que eu pensei que conhecia a resposta: significava que eu gostava mais da Savannah que de mim próprio e que iríamos passar o resto das nossas vidas juntos. Não seria preciso muito. Em certa ocasião ela disse-me que a chave da felicidade era ter sonhos concretizáveis, e que os dela não tinham nada de extraordinário. Casamento, família... o essencial. Significava ter um emprego certo, uma casa com uma vedação de estacas brancas, uma carrinha ou um jipe suficientemente grande para levar os miúdos para a escola. Não parece muito improvável, pois não? Quando duas pessoas se amam? Era também assim que eu pensava.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Mia Couto " Para Ti "

Foi para ti que desfolhei a chuva para ti soltei o perfume da terra toquei no nada e para ti foi tudo Para ti criei todas as palavras e toda me faltaram no minuto em que falhei o sabor do sempre Para ti dei voz ás minhas mãos abri os gomos do tempo assaltei o mundo e pensei doce engano de tudo sermos donos sem nada termos simplesmente porque era noite e não dormiamos eu descia em teu peito para me procurar e antes que a escuridão nos cingisse a cintura ficávamos nos olhos vivendo de um só amando de uma só noite. Mia Couto

História del Rei Transparente


---Has venido corriendo? Qué encantadora...
Dhuoda alarga la mano y me acaricia la cara suavemente con la yema de su delicado dedo índice, empenzando por la sien y descendiendo hacia la barbilla. Cuando alcanza mi quijada, gira un poco el dedo y continúa su camino apretando contra la piel su afilada uña. Su aguijón de alacrán. Pero no, es un mínimo escozor, apenas una ligera molestia. No me muevo mientras me marca con el leve arañazo. Es su sello ducal de posesión. Sin duda está curada

 Un poco de una página que há leer del" Rei Transparente" una história muy graciosa:

A Confissão da Leoa " Mia Couto"


   Uma passagem do livro:

Durante os dois anos que passei na missão, as visitas de meu avô eram o meu sol. Em certas ocasiões ele ficava calado olhando o horizonte. Outras vezes, ele queria daber se Deus me dava atenção.
   ---E como estão as letras?---perguntava.
  ---Escrevo sempre, avô. Quer ler?
 ---Não minha filha. Se eu leio, sabe o que sucede?
Deixo de ver o mundo. Leia-me a história da rainha do Egipto.
Era o seu texto preferido. Eu já o sabia de cor e salteado. O avô fechava os olhos e eu recitava, sempre no mesmo tom:

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Historia Del Rei Transparente

         La luz nascerá de las tiniebles:    Isaías, 58,10

 Soy mujer y escribo. Soy plebeya y sé leer. Nasci sierva y soy libre. He visto en mi vida cosas maravillosas. He hecho en mi vida cosas maravillosas. Durante algún tiempo, el mundo fue un milagro. Luego regresó la oscuridad. La pluma tiembla entre mis dedos cada vez que el ariete embiste contra la puerta. Un sólido portón de metal y madera que no tardará en hacerse trizas. Pesados e sudados hombres de hierro se amontonan en la entrada. Vienen a por nosotras. Las Buenas Mujeres rezan. Yo escribo. Es mi mayor victoria, mi conquista, el don del que me siento más orgullosa; y aunque las palabras están siendo devoradas por gran silencio, hoy constituyen mi única arma. La tinta retiembla en el tintero con los golpes, también ella asustada. Su superficie se riza como la de un pequeño lago tenebroso.

Un pouco de el libro que estoi a leer;" Historia del Rey Transparente "