terça-feira, 13 de novembro de 2012

Dez Reis de Esperança de António Gedeão

Se não fosse esta certeza que não sei de onde vem, não comia nem bebia, nem falava com ninguém. Acocorava-me a um canto, no mais curo que ouvesse, punha os joelhos á boca e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes do ingénuo adolescente, a chuva das pernas brancas a cair impertinente, aquele incógnito rosto, pintado em tons de aguarela, que sonha no frio encosto da vidraça da janela, não fosse a imensa piedade dos homens que não cresceram, que ouviram, viram, ouviram, viram e não perceberam, antologia do espanto, flores sem caule, flutuando no pranto do desencanto,
... se não fosse a fome e a sede dessa humanidade exangue, roia as unhas e os dedos até as fazer em sangue.

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