terça-feira, 27 de novembro de 2012

Esfinge == Soneto == Florbela Espanca

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Sou filha da charneca erma e selvagem:
Os giestais, por entre os rosmaninhos,
Abrindo os olhos de oiro, plos caminhos,
Desta minh´alma ardente são imagem.

E ansiosa desejo--ó vã miragem--
Que tu e eu, em beijos e carinhos,
Eu a Charneca, e tu o sol, sozinhos,
Fôssemos um pedaço da paisagem!

E á noite, á hora doce da ansiedade,
Ouviria da boca do luar
O De Profundis triste da Saudade...

E, á tua espera, enquanto o mundo dorme,
Ficaria, olhos quietos, a cismar...
Esfinge olhando, na planície enorme... 

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