sábado, 26 de abril de 2014

** Prelúdio*** DE ALDA LARA *

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Pela estrada desce a noite
Mãe -- Negra, desce com ela...

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos
nem brincadeiras de  guizos,
nas suas mãos apertadas,
Só duas lágrimas grossas,
em suas faces cansadas.

Mãe negra tem voz de vento,
voz de silencio batendo
nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite descendo,
de mansinho pela estrada...

Que é feito desses meninos
que gostavas de embalar ?...

Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar !...
Quem ouve agora as histórias
que costumavas contar ?...

Mãe--Negra não sabe nada...

Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe--Negra !...

Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...

Muitos partiram para longe,
quem sabe se hão-de voltar !...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.

É a tua voz deste vento
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada.

      Lisboa, 1951





terça-feira, 22 de abril de 2014

****** ANDA VEM ******

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Anda vem... por que te negas,
Carne morena, toda perfume ?
Por que te calas,
Por que te esmoreces,
Boca vermelha,-- rosa de lume!

Se a luz do dia,
Te cobre de pejo,
Esperemos, a noite presos num beijo,

Da--me o infinito gosto,
de contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo,
O aroma e o calor
Da tua carne,-- meu amor !

E ouve, mancebo alado
Não entristeças, não penses,
Se contente,
Porque nem todo o prazer
Tem pecado...

Anda, vem... da--me o teu corpo,
Em troca dos meus desejos.

Tenho saudades da vida
Tenho saudades dos teus beijos

A   Boto.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Poema~~~~~~~~~~~~~~Esquce-te de mim amor~~~~~~~



Esquece-te de mim , Amor,
das delícias que vivemos
na penumbra daquela casa,
Esquece-te.
Faz por esquecer
o momento em que chegamos,
assim como eu esqueço
que partiste,
mal chegamos,
para te esqueceres  de mim,
esquecido já
de alguma vez
termos chegado.

~~~~ António Mega Ferreira ~~~~

~~~~Silêncio..... Simplesmente ~~~~

Silêncio adormecido** na manta do vazio.** Na cama  da  ilusão ** vive perdido,**
nas dores da solidão.**

Silêncio,** que paira no ar.** Lê os murmúrios,** entre o invisível e o lugar,**
Criamos linhas,** contornos, formas despertas ** a murmurar... silêncios.**

Silêncios de olhos fechados.** Dedos de carícias ** percorrem meu corpo, **
invisível. ** O meu sentimento,** dança no ar a força ** das emoções.**
E torna-se bailarina ** no palco das sensações ** Bebem na sede ** de um desejo real. **
Fome de amor... intemporal. ** Deixando o silêncio ** escondido ** na voz do coração.**

  ~~~~ Cidália  M. C.

__--- Silêncio ........ Simplesmente ----



~~~~~~ Véspera da Água ~~~~~~~

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Tudo lhe doía
de tanto que lhe queria:
a terra,
e o seu mundo de tristeza,
um rumor  adolescente,
não de vésperas,
mas de tílias,
a respiração do trigo,
o fogo reunido na cintura,
tudo lhe doía:
a frágil e doce e mansa
masculina água dos olhos,
o carmim entornado no espelho,
os lábios,
instrumentos de alegria,
de tanto que lhe queria;
os dulcíssimos melancólicos,
magníficos animais amedrontados,
um verão difícil,
em altos leitos de areia,
a haste delicada de um suspiro,
o comércio dos dedos em ruína,
a harpa inacabada
da ternura,
um pulso claramente pensativo,
lhe doía:
na véspera de ser homem,
na véspera de ser água,
o tempo perdido,
rouxinol estrangulado
meu amor: amora branca
o rio
inclinado
para as aves,
a nudez partilhada, os jogos matinais,
ou se preferem: nupciais,
o silêncio torrencial,
a reverência dos mastros
uma criança corre
corre na colina
atrás do vento,
de tanto que lhe queria,
tudo tudo  lhe doía.

~~~~~~  Eugénio  de  Andrade ~~~~~~

**++** SAUDADE **++**

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Amo-te saudade !
Companheira de emoções.
cúmplice nas paixões.
No riso ou no choro,
na solidão ou na alegria
tornas-te companheira dia a dia.

Saudade
de momentos passados!
Ontem, nas recordações
que fazem parte de mim
feitas na estrada que percorri.
Saudades que ficam sem idade!
Minha amiga ou inimiga quando
me lembras momentos de dor.
Saudades feitas pelas lágrimas do amor!
Quantas vezes, juntas com solidão,
partilhamos de mãos dadas,
as recordações!

Mas, hoje caminha comigo
a saudade que acorda a murmurar
baixinho as minhas emoções.
Saudades que teimo em silenciar!
Amor ou dor,
Solidão ou alegria,
medo que muitas vezes,
também nos dá a mão
e nos leva no tempo com receio
de não acordar.

Saudade que guarda os sonhos
que nos acompanha na caravela
da esperança em alto mar
em busca do paraíso de amor!

Hoje e amanhã a saudade
acompanha-me
quando não digo,
no eco das palavras
a saudade de ti,
de mim, de nós,
de vós, deles
e de um amor que embala
a saudade de mulher!

~~~~~~~~~~~~~ Cidália M. C. ~~~~~~~~~~~~

sábado, 5 de abril de 2014

»»»» Um Pássaro a Morrer ««««

 


Não é vida nem morte, é uma passagem,
nem antes nem depois: somente agora,
um minuto nos tantos de uma hora.
Uma pausa. Um intervalo. Uma viagem.

Prisioneira de mim, onde a coragem
de quebrar as algemas, ir-se embora,
se tudo o que em mim ria agora chora,
se já não me seduz outra viagem?

E nada disto é céu nem é inferno.
Tristeza, só tristeza. Sol de Inverno,
sem uma flor a abrir na minha mão,

sem um búzio a cantar ao meu ouvido.
Só tristeza, um silêncio desmedido
e um pássaro a morrer: meu coração.

     Fernanda de Castro